terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Instantes

   O melhor da vida acontece quando nós paramos e respiramos fundo. Em uma estação de trem ou em um campo aberto. Apenas sentimos que estamos vivendo. Porque o melhor da vida é saber que ela acontece.

sábado, 26 de dezembro de 2009

Novelo

   O passarinho está aprendendo a voar. Em breve sairá do ninho de vez e se alimentará por conta própria.
Vazio. Algo se desfará para ser construído.
   A princípio, tudo se mostrará absurdo, mas quando, já no futuro, se olhar para trás, terá a simplicidade em vista. Como se sempre tivesse sido assim.
   Um emaranhado de lã que se desenrola. Esse é o mundo!

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Telefone

   - Alô?
   - Oi, por favor, a Laura está?
   - Não tem Laura aqui, tem Laís, serve?
   - Ahm...Desculpe, liguei errado.
   - Ou certo, depende de você.
   - Liguei errado mesmo.
   - Alô?
   Tum, tum, tum.
   E ele já não a reconhecia mais.

Ao amigo imaginário

   Você não existia. Nem na imaginação, onde, por conveniência, é a sua casa. Mas por sentir a sua falta, vou recriá-lo.
   Só você me entenderá.
   Os humanos são incoerentes. Cansei deles.
   Alô, força da consciência, você vem me buscar?

O descompasso da vida

   Há os sonhos. A vontade maior do que o próprio ser de fazer ou ser algo.
   Há as circunstâncias. Aquelas que às vezes barram os sonhos.
   Há o tempo. Responsável por continuar, apesar das circunstâncias.
   Há a paciência. Que acompanha o tempo.
   Há sonhos, circunstâncias e tempo. Eles nem sempre andam juntos.
   Mas sempre resta a paciência.

Tédio.

   Alguém pode viver sob a sua vigilia? Como uma sombra que, de repente, surge e toma conta. Eu quero ver o sol, eu quero ver o sol! Por onde ele anda? Essas nuvens vão passar e eu sei que vou tê-lo.

domingo, 11 de outubro de 2009

Parênteses

   E eu andava por aí escrevendo sem papel, comendo sem talher. Talvez eu fosse selvagem ou então tivesse perdido um parafuso durante a viagem. Mas eu era eu, invariavelmente eu. Ninguém podia mudar o que estava mudando em mim e no mundo.
   As mudanças já são um indício que não podemos tudo. Ou o contrário.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

As coisas perdidas


   Não perdi, só não sei onde está. Minha caneta, meu livro, meu sono, meu tempo. Se achá-los, sei que ficará com eles. Aproveitei-os. A caneta talvez esteja sem tampa, sorte será se não estiver falha. O livro não pude ler, faça isso por mim. O sono é pesado e vem aos poucos. O tempo é o mais fácil de perdê-lo, difícil ganhá-lo.
   Em troca me dê um pouco disso que você chama de mente livre. Livre para estar onde quero estar. E então terei de volta o tempo do mundo, pois o meu faz parte de mim.
   Que eu me perca em mim e em mim mesma eu me encontre. Amém!


sábado, 15 de agosto de 2009

Um paradoxo?


   Hoje eu vi uma larva e senti uma repugnância tão grande que há tempos não sentia. Foi estranho. Como pode um ser tão pequeno ter me causado tamanho susto? Poxa, sou pequena, mas sou maior que ela. Sou fraca, mas sou mais forte. E por aí vai.
   Ainda estou surpresa como isso pode me abalar. Outrora, admito, me assustava ao ver baratas e aranhas, mas hoje quando as vejo só falta lhe fazer confidências. É, sou assim. Tão covarde e tão corajosa. O que sinto não é medo. Também sei que é algo que não posso explicar.
    Além disso, me sinto assim quando sei que tenho uma oportunidade. Quero aproveitá-la, agarrá-la com mãos e pés. Ela é minha e tenho assim por direito a chance de errar. Não posso, não quero!
   Ah, sou humana sei que errarei mais vezes do que acertarei, é que perder uma oportunidade me deixa menor que uma larva.
   Olhei aquele pedacinho de batata palha em cima da cadeira, ia tirá-lo, me aproximei, ela se mexeu...e algo em mim também.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Rotina

   Tenho de fazer todos os dias as mesmas coisas.
Ajo da mesma forma. Encontro as mesmas soluções. Digo o que já disse. Máquina. Me entedio no fim da tarde.

   Mas ainda posso fazer todos os dias as mesmas coisas. Agir de outra forma. Buscar novas soluções. Dizer realmente o que eu penso. Olhar o céu de sempre no fim da tarde.
   Como se fosse a primeira vez.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Como se fosse apenas um



    Como de costume ela acordou de madrugada para fazer xixi. A dona acordou com seu resmungo e abriu-lhe a porta. As duas dormiam no mesmo quarto. A cachorra subiu para a laje e ficou observando a casa vizinha. A sua vista era a de um quintal como outro qualquer, onde também residiam uma cachorra e um coelho, além de um gato, talvez algum outro animal que não era visível para os vizinhos.
   A dona, que tinha ficado no quarto, ouviu sua cachorra chorar. Foi lá chamá-la para que ela não acordasse os vizinhos. Não passavam de 4 horas da manhã. Chamou-a algumas vezes, mas sem efeito.
   Foi, então, para a laje. A cachorra além de chorar, olhava para a dona e para a casa ao lado, como se quisesse dizer algo. A dona olhou na mesma direção que ela. Levou a cachorra para baixo, onde o coelho dela dormia. A cachorra, finalmente, se tranquilizou.
   Os dois coelhos eram iguais. Decerto ela pensou que o coelho tivesse caído na casa vizinha.

sábado, 6 de junho de 2009

Marrom


Quando você era vermelho
Eu era verde
Incompreendido estava
Você não me ouvia

Agora que você é verde
E também o sou
Me sinto defronte a um espelho
Preferia você vermelho