domingo, 28 de março de 2010

Álcool

   Na saída de uma festa, um homem conversava com um menino, até surgir um comentário por parte do primeiro sobre uma moça de bota laranja que estava perto.
   - Aquela ali, ó, é uma subsversiva.
   Devido ao constrangimento, ela se ruborizou e esboçou um sorriso. Não disse palavra alguma.
   A mãe do menino veio e o levou embora.
   - Sabe, eu acho que você deve ter juízo, é, juízo. Os meus gurus espirituais me falaram de você e que você deve ter cuidado. Pilantra tem em toda a esquina. - Disse de repente o homem.
   - Ah, sim, sim.
   - É que...
   Durante uns 30 segundos ele procurou a palavra.
   - ...você deve se cuidar. Ninguém quer o seu mal. Se você quiser, siga o meu conselho. A escolha é sua. Você pode ter um ótimo caminho ou...algo que não sabemos.
   - Ah.
   Ela procurou alguma palavra para se mostrar o mínimo interessada, mas, diferente dele, nunca encontrou. Olhou nos olhos daquele homem que parecia saber tudo ao seu respeito, até que por fim ele arrematou:
   - Você está sabendo de nada? Ninguém comentou do que o meu guru...?
   - Não.
   "O que eu deveria saber?", ela pensou.
   Uma mulher com um vestido roxo se aproximou e disse para a menina:
   - Ele já está bem legal, né?
   - É.
   E das três uma: ele poderia saber algo que ela não escondesse, estivesse dando um conselho por saber algo que ela não soubesse ou estivesse jogando aquelas palavras por causa do seu estado. Ela preferiu acreditar na terceira, isso tirava toda a sua culpa e a colocava em posição de segurança. Não mais de confusa, como poderia se sentir.
   Esse era o seu livre-arbítrio.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Ansiedade

   Novamente, sinto aquele formigamento nos pés. Sintoma de uma ansiedade que há tempos não aparecia.
Não posso fugir disso. Juntar todas as malas que há dentro de mim e ir para outro corpo. Outra vida, outros amigos.
   Limitações. E então eu vou até a linha limite, admiro-a, piso de forma hesitante.
Meus pés começam a voltar ao normal. Se eu não puder fazer tudo, farei de tudo para algo acontecer.
   Nem que seja um simples sorriso.

domingo, 21 de março de 2010

   Estava encostada em uma parede em uma casa desconhecida. Mal sabia como tinha ido parar aqui. "Acho que estou na festa da amiga de uma amiga", pensei. Não me sentia intrusa, porque ninguém me percebia. As pessoas passavam e apenas algumas me sorriam. Não me importava. Mas para falar a verdade, o que importa é o que todos fingem não se importarem.
   Fui pegar algo para beber e voltei. À minha casa, claro. Sai, enquanto todos cantavam "parabéns".
   Domingo. Acordo às 11:34. Foi apenas um sonho. Sem importância.

sexta-feira, 19 de março de 2010

   Andávamos por uma rua vazia em uma noite de lua cheia. Eu sabia que não deveria ser a primeira falar, mas quis acabar com aquele silêncio constrangedor. Silêncio esse que falava por nós. E eu precisava ser dona das palavras.
   Me virei, então, e ela fez sinal para que eu permanecesse quieta.
   - Só me diga: quando? Ela disse.
   - Em breve, em breve.