A velocidade com que o ônibus andava já vinha assustando os passageiros, uns 50 km/h acima do que é permitido. Um cachorro que passava por ali quase foi atropelado por isso.
- Em um momento de pressa, não pensamos nos outros! Gritou a passageira sentada atrás do motorista.
Se isso tinha sido uma acusação ou uma defesa, ninguém entendeu de imediato.
Devido as possíveis consequências, o motorista foi gradualmente diminuindo a velocidade.
Marisa, a passageira que falou, olhou para o seu lado e viu uma vítima para as suas histórias.
- A senhora vai descer em breve?
- Não, só no ponto final. Por quê?
- Nada não. Sabe, presenciei um fato horrível, também com cachorros.
- Hm...Mas isso que acabamos de ver não acabou mal. Por sorte!
- Verdade, quisera eu que sempre fosse assim...Vou te contar...
E assim se estendeu a conversa, sem que a ouvinte pudesse escapar:
- Havia um cara que estava trabalhando no transporte de carga, lá na minha rua. Ele tinha um Yorkshire que mantinha sempre dentro carro. Perguntei a uma amiga se ela sabia o motivo e ela me disse que ele preferia o carro à casa.
- Mas a casa é bem melhor! Disse a ouvinte, mostrando-se interessada.
- Pois é. Resolvi ir conversar com ele. Caso sua casa estivesse em reforma ou algo assim, me ofereceria para ficar com o cachorro. Na minha casa tem um jardim e um quintal. Assim, cada cachorro ficaria em um lugar, pois eu tinha uma Rottweiler. Porém, um dia ao tirar o cachorro do carro para levá-lo ao quintal, a coleira desprendeu. Ele entrou no jardim onde estava a minha Laise. Ela correu atrás dele e o pior aconteceu.
- Meu Deus!
- Ah...me lembro tão bem! A pior cena que eu presenciei.
- Calma, mas a sua cachorra não teve culpa, pelo menos. Foi uma infelicidade, não nego.
- A senhora ainda não ouviu o fim. O dono ficou tão ou mais espantado do que eu. Sacou um revólver que trazia na cintura e atirou em Laise. Fiquei sem reação!
Marisa desatou a chorar.
- Oh, acalme-se...
Após enxugar as lágrimas, retomou:
- Um mês depois recebi uma carta do dono. Antes de abrir, imaginei que fosse um pedido de perdão.
- E não foi?
- Muito pelo contrário. Ele pedia o pagamento de um Yorkshire, que ele havia comprado para substituir o perdido.
- Que absurdo!
- Se ele amava tanto o cachorro, por que deixava ele dentro do carro?
- É...
Marisa olhou pela janela e disse:
- Chegamos, obrigada por me ouvir.
- Ah, foi nada. Não digo que adorei a história, porque ela é muito triste.
Se despediram e desceram. Enquanto a ouvinte se distanciava, Marisa ouviu chamarem seu nome.
- Oi?
- Sou eu, César, lembra de mim? Disse o motorista.
- Como poderia me esquecer?
- Ouvi você falando de mim no ônibus. Não sou cruel como você disse. Fiquei atordoado com a morte de Josie.
- Não justifica. Quis transferir o seu sofrimento para mim?
- De modo algum. Estava apenas fazendo justiça.
- Ah, por favor, César! Você é cego ou julga muito mal. O que dá na mesma. Se for ou não pedir muito, licença, tenho mais o que fazer.
Virou-se e partiu, sem saber a real finalidade daquela conversa. E pensando o quão zombador era o destino por a deixar frente a frente com ele...
"Se ele quisesse meu perdão, teria pedido. Mas percebi que ele ainda acha ter razão. Coitado!"
Nesse dia, conseguiu fazer a adoção de 3 animais em seu canil. Acreditanto, sempre, que os novos donos iriam destinar tanto amor quanto ela.
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Hahaha, que trágico, amiga...
ResponderExcluirMas eu gostei, ficou bem profissional!
=D
Mari.